No velhinho dicionário da Porto Editora, que tenho, da língua portuguesa, 5ª edição : Adulto , adjectivo e significa o mesmo que ou o individuo que passou a fase de adolescência; que atingiu o estado em que pode reproduzir-se; crescido. Em sentido figurado: que atingiu o seu pleno desenvolvimento . Do latim: adultu
Então, vamos ver:
Se passei da idade da adolescência? Tem dias
Se atingi o estado que pode reproduzir-se? Check
Se sou crescida?, Com o meu metro e meio e 45 kilos??? Não!!
Se atingi o meu pleno desenvolvimento? Espero que não!!! Tanto que ainda tenho para aprender
Assim, decido hoje que não sou adulta.
Tenho momentos de adulta.
Se me considero adulta. Sim, houve alturas em que me considerei muito adulta, e desta distância consigo identificar alguns momentos da minha vida em que assim me senti. Adulta e responsável.
O primeiro de todos foi quando tive o meu primeiro cão. Sim, é verdade. Ter um cão que dependia de mim, fez-me sentir essa sensação do já sou grande , sou adulta
O segundo foi quando comecei a trabalhar. Senti-me muito adulta , na minha roupa de adulta, a fazer cara de adulta.
O terceiro foi quando casei, sim também teve esse efeito em mim, não sei se da educação, das crenças que temos, casada ia construir uma família e ser adulta , assim como via os meus Pais. Seria uma espécie de corte do cordão umbilical.
Naturalmente esta sensação de adultez hehe com o casamento já não faz parte, felizmente da geração da minha filha, tenho a certeza, pelo menos da maior parte dos jovens .
O quarto foi quando nasceu a minha filha. A responsabilidade de ter uma vida nas minhas mãos. Mas , na verdade, não foi tanto o sentir-me adulta, mas sim sentir responsabilidade. E ser adulta e ser responsável não andam de mãos dadas. Além do mais, senti de imediato que a responsabilidade era minha e do meu marido.
Há muitas pessoas e teorias que dizem que só ficamos verdadeiramente adultas quando morre o Pai ou a Mãe.
Quando o meu Pai morreu, há ano e meio, não me senti adulta.
Além da dor infinita e dilacerante, senti pela primeira vez a sensação de finitude da vida,não da vida em geral, da minha vida, que eu também irei morrer.
Felizmente, até agora, não tive qualquer doença que me levasse a pensar na minha morte.
Já perdi amigos da minha idade, mas nem isso me fez realizar a finitude da minha vida, como a morte do meu Pai.
Enquanto ele era vivo, inconscientemente, ou não, eu não morreria.
Esta semana dois pequenos episódios fizeram-me pensar neste assunto e gostava de partilhar.
Cá em casa existem muitos livros de banda desenhada, o meu marido e a minha filha gostam imenso.
Eu, limito-me ao Astérix, sim de quem sou fã, um Lucky Luck também leio, nunca gostei do TINTIM, enerva-me aquela inteligência dele e até o cão , coitadito, é o meu mau feitio a funcionar
E a minha cultura e interesse por banda desenhada fica-se por aqui.
Fica-se não, ficava, não obstante tudo o que tenho em casa.
Há uns dias, estava sentada no sofá da sala , eu levanto-me muito cedo e gosto de ler um pouco de manhã, quando digo manhã, é mais madrugada
pois eu levanto-me cerca das 4/ 5 da manhã.
Nesse dia, não sei porquê, peguei num livro de banda desenhada que estava na mesinha, como estão sempre há milhentos anos
Era o Corto Maltese. Peguei nele com uma certa displicência, mas, rapidamente fiquei focada e com toda a minha atenção dirigida à história, a ver com atenção os desenhos, a maravilha daqueles desenhos, e só terminei quando o livro acabou.
Quando o pessoal cá em casa começou a acordar, eu parecia uma criança atrás do meu marido e da minha filha:
Li o corto maltese, adoro, estou apaixonada por ele
E cheguei mesmo a culpá-los por não me terem obrigado a ler há mais tempo. Claro, alguém tem que ter a culpa
Eles riam-se e encolhiam os ombros.
E para mim tinha sido uma descoberta fantástica. Aos 50 e tal anos!! Qual adulta, criança feliz!!
Nessa mesma semana, porque posso não ser adulta, mas a idade às vezes pesa, doíam-me imenso as costas- Fui caminhar para ajudar a desinflamar( não sei se existe esta palavra), yoga estava fora de questão, pois a dor já era imensa e nem o pescoço conseguia mexer.
Quando cheguei a casa, depois da caminhada , a minha mãe que já falei dela várias vezes, tem 89 anos, disse-me :
Deita-te aqui na minha cama.
Lá fui eu, deitei-me de barriga para baixo, fez-me uma massagem com Vick Vaporub , aquela latinha em creme, estão a ver? Em casa dos meus Pais havia sempre e eu também tenho. A seguir tapou-me as costas com uma toalha aquecida e eu adormeci na cama da minha mãe, ao lado dela, enquanto ela estava sentada no sofá a ver a sua televisão.
Acordei no dia seguinte. Talvez há mais de 40 anos que não dormia com a minha mãe.
Se sou adulta? Não, sou criança feliz.
Na mesma semana, apaixonei-me e dormi com a mãe.
Se isto não é felicidade, o que será?
Paz ,Tranquilidade e Felicidade

” Eu canto e a montanha dança”, de Irene Solà Resenha Literária

Carta 6 de“Cartas a Lucílio”, de Séneca

Carta 5, de “Cartas a Lucílio”, de Séneca

Carta 4 de “Cartas a Lucílio”, de Séneca
